Na esteira do alinhavado ao curso do escorço introdutório, o mundo globalizado encontra-se, atualmente, quase que inteiramente conectado, sendo que as barreiras da distância e das outras dificuldades que obstaculizavam as relações interpessoais, outrora, foram superadas com o advento de softwares que permitem a livre comunicação, a imediata interação, obtenção de informação e compartilhamento de dados.
O compartilhamento de dados tem alcançado, corriqueiramente, patamares inimagináveis, seja de forma explícita, quando qualquer indivíduo compartilha informações ou situações de sua própria vida, em mídias sociais, ou de forma implícita, a partir do consentimento proferido em termos de uso e política de privacidade de plataformas digitais, ou preenchimento de cadastros para criação de contas em aplicativos, e-mails, websites de comércio eletrônico (e-commerce), e até mesmo a simples utilização de conexões tecnológicas em bens móveis (Internet of Things), por exemplo.
Em linhas sintetizadas, tudo o que é feito na internet deixa rastros, sendo que cada fragmento destes rastros, constitui dados dos usuários das tecnologias, que são armazenados em determinado “local”, ou plataforma, sob tutela da empresa responsável por esta, seja do âmbito público ou privado, podendo ser utilizados para as mais diversas finalidades, desde comercial, até comportamental.
Evidentemente que o conjunto de informações, armazenadas em determinada plataforma, constitui um banco de dados que, posto à cruzamento com outros da mesma natureza, além de diferentes informações, faz com que se elucide um novo e gigantesco banco de dados online que abarca noções e conhecimentos acerca da vida de cada um dos usuários das mais diversas searas do meio digital.
A este conjunto de informações, fragmentadas ou não, cruzadas ou integrais, captadas pela simples utilização de plataformas digitais, que constituem um relevante e voluptuoso banco de dados online, dá-se o nome de Big Data.
Sobre a mudança de paradigma na captação de dados com o advento da tecnologia, Márcio Rafael Silva Laeber já lecionava:
O desenvolvimento tecnológico permitiu a substituição das antigas fichas cadastrais manuais por arquivos eletrônicos que, dispostos em poderosos computadores e tratados por poderosos programas, são capazes de cruzar informações pessoais com precisão e eficiência jamais vistas.
A evolução acelerada da informática e da telemática derrubaram fronteiras geográficas no transporte da informação, mormente com o surgimento da internet, permitindo, em curto espaço de tempo, relacionar dados contidos em diferentes bancos de dados em diferentes locais do mundo.
Assim, a criação de bases de dados e a coleta, armazenamento e tratamento de informações pessoais passaram a ser objeto de preocupação e de elaboração jurídica, tanto doutrinária como legislativa, no intuito de garantir proteção à privacidade, consubstanciada na proteção de dados pessoais.
Apesar de, teoricamente, o conceito de Big Data parecer simples, este merece complexa análise, para que seja devidamente destrinchado.
Conceituando o instituto em curtas linhas, a escritora espanhola Elena Gil González, especialista no tema, assim dispõe:
Big data es un término que alude al enorme crecimiento en el acceso y uso de información automatizada. Se refiere a las gigantescas cantidades de información digital controlada por compañías, autoridades y otras organizaciones, y que están sujetas a un análisis extenso basado en el uso de algoritmos. No es una tecnología en sí misma, sino más bien un planteamiento de trabajo para la obtención de valor y de beneficios como consecuencia del tratamiento de los grandes volúmenes de datos que se están generando día a día.
Neste diapasão, para que a definição de Big Data se torne ainda mais palpável, impende explicitar que a coleta, o tratamento e a utilização destes dados, em razão de sua quantidade e imediatismo, possui características próprias, que compõem o conceito do fenômeno.
Dentre estes aspectos do cenário criado pelo Big Data, é possível elencar o que o escritor inglês, que muito contribuiu sobre o tema, Bernard Marr, denomina como “os 5 (cinco) V’s do Big Data”.
Tal teoria diz respeito a divisão de características que amoldam o fenômeno, em cinco, todas elas iniciadas com a letra “V”: volume; velocidade; variedade; veracidade; e valor.
Por volume, o aspecto aponta para a vasta quantidade de dados gerados, mundialmente, ao Big Data, a cada instante, sendo que o banco de dados deve fomentar maneiras de elencar quais informações lhes serão úteis. Já no que diz respeito à velocidade, este ponto se refere ao imediatismo que um novo dado é gerado, coletado, tratado, transacionado e cruzado para sua finalidade, devendo o Big Data processá-los na mesma velocidade em que são gerados, para que não se tornem obsoletos.
Quanto ao aspecto da variedade, o Big Data abarca dados e informações concernentes aos mais diferentes aspectos do cotidiano, bem como advindas de distintas fontes, sendo que mecanismos de cruzamento de dados heterogêneos fazem parte do fenômeno, em sua essência.
A veracidade diz respeito, basicamente, a dois fatores, sendo eles atribuir quais dados são verossímeis e, ainda, atualizados, vez que dados desatualizados podem ser tidos como inverídicos. Já o aspecto do valor, extremamente importante, se mostra como uma junção de todos os anteriores, para que a utilização do Big Data seja abordada de forma proveitosa, vantajosa e eficiente para o receptor dos dados, valorando, na essência, cada uma das informações coletadas.
Portanto, traçadas as premissas conceituais acerca do fenômeno constituído pelo Big Data, antes de prosseguir ao deslinde do trabalho em voga, necessário, pois, tecer considerações acerca de sua aplicação.
De plano, como utilização precípua dos mecanismos de Big Data, elencamos aquela perpetrada no âmbito empresarial, na exploração de atividades comerciais, por meio dos quais os dados coletados são utilizados para fins de estabelecimento de perfis de consumidores e clientela, na constante busca por aperfeiçoamento de atividades e expansão do fundo de comércio, bem assim para que sejam realizadas publicidades direcionadas.
Há, também, que se fazer importante menção aos usos para otimização de sistemas de saúde, seja em seu aspecto preventivo ou repressivo, utilização em serviços de proteção ao crédito, bem como no fomento à melhoria de performance em atletas de alto nível, além de incentivo a pesquisas científicas, inteligências artificiais, e até mesmo relações entre países.
Sintetizando algumas das aplicações dos mecanismos de Big Data no cotidiano, Adhemar Della Torre Netto e Alfredo Emanuel Farias de Oliveira concluem:
Através da análise desse imenso volume de informações, é possível ter uma compreensão até então inédita, que transita entre a localização geográfica de uma pessoa específica até os hábitos de consumo de uma determinada sociedade. Pode-se antecipar eventos cataclísmicos, como terremotos e furacões, em como tomar-se medidas para prevenção de epidemias em seu epicentro, prevenindo-se uma patologia, potencialmente capaz de atingir toda a população mundial. No campo empresarial, as informações de usuários e consumidores têm peso de ouro para as companhias, que buscam identificar hábitos de consumo e focar em publicidade direcionada. […] Com isso, extrai-se a compreensão da importância do Big Data e sua constante presença em nossas vidas: desde a facilidade e rapidez com que se realiza uma investigação através de ferramentas de busca como o Google até as indicações de obras literárias que a livraria on-line Amazon realiza a seus clientes, através da análise dos dados digitais (rastros) que são deixados com o uso natural e corriqueiro da internet – informações essas que, depois de processadas, revelam as preferências e tendências de cada indivíduo analisado, permitindo que ações de marketing personalizadas possam ser direcionadas de forma pessoal.
Arrematando a ideia, acerca da utilização do Big Data, em especial no âmbito empresarial, denotando sua relevância, eis as considerações de Javier Puyol Moreno:
[…] la generación de datos no solo crece, explota. El crecimiento exponencial es tan grande, que el 90% de los datos guardados en la actualidad, han sido creados en los dos últimos años. […] estos datos son una oportunidad de negocio millonaria para la mayoría de las empresas. Saber recoger y utilizar grandes cantidades de datos permite a las empresas tomar mejores decisiones y ser más competitivas: esto es el Big Data.
Portanto, basicamente, este é o panorama global atual que envolve o instantâneo e massivo compartilhamento de dados, coletados e tratados para as mais diversas finalidades, constituindo colossal banco de dados digital com aplicações variadas, denominado por Big Data.